Autoria de Rosi Vieira
Coordenadora do Departamento de Relações Internacionais da Facens (DRI)
Se não houvesse tristeza, não saberíamos o que é felicidade. O mesmo exercício se aplica na distinção entre escuridão e luz, veloz e lento, frio e quente, bondade e maldade, interno e externo e assim por diante.
Seguindo a lógica acima, para que alguém seja considerado local é necessário haver o global, por exemplo. Só que alguém que se julga local, o seria de fato na essência? Algo questionável, se tivermos em mente à presença da dimensão local na produção da cultura global e vice-versa ou, indo além, se pensarmos na natureza da raça humana.
O ser humano sempre esteve em movimento, seja na busca por caça, melhores recursos naturais e terra fértil para o cultivo; seja na ampliação de suas fronteiras; seja na fuga contra a guerra ou de perseguição religiosa; seja na procura de um lugar que lhe proporcione oportunidade de emprego, melhor moradia etc.; seja no aprimoramento de seus conhecimentos; seja na execução de seu trabalho; seja na realização de um sonho em conhecer uma nova região ou país, entre outros fatores.
Contudo, é em meados do século XX que a mobilidade alcança escalas imensas por meio das transformações tecnológicas nos setores de transporte, mormente, da aviação. Prova disso, neste início do século XXI, a sociedade não titubeia em dizer ser conectada por viver num mundo integrado, ou nos termos dos estudiosos Ianni (2002) e Bauman (1999), globalizado. Esta impressão tem cada vez mais desenhado o senso comum de um mundo de interconexão e de integração de culturas e comunidades em detrimento do local ou da localidade.
O que levou o sociólogo britânico Roland Robertson (1992 e 1995) a refuta perspectivas homogeneizantes da cultura, apontando mediações da globalização aos distintos contextos sociais e trazendo para a luz da discussão a ideia do gLocal. Basicamente, ele defende que a globalização não significa o fim do local, enquanto realidade social. Segundo ele, o conceito de “glocalização” tem o mérito de restituir à globalização a sua realidade multidimensional; a interação entre global e local (gLocal) evitaria que a palavra “local” definisse apenas um conceito identitário, contra o “caos” da modernidade considerada dispersiva e tendente à homologia.
Curiosamente, o termo glocalização foi introduzido primeiramente, como estratégia mercadológica japonesa inspirada na dochakuka – palavra derivada de dochaku, que, em japonês, significa “o que vive em sua própria terra”, conceito originalmente referido à adaptação das técnicas de cultivo da terra às condições locais.
E você, leitor, já parou para pensar o quanto é gLocal? Global sem sair do Brasil e o quanto concede à cultura global do toque brasileiro de ser? Reflita e nos dê algum(ns) exemplo(s) disso na parte de comentário abaixo.
Referências:
BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
IANNI, O. Teorias da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 10. ed., 2002.
ROBERTSON, R. Globalization: Social theory and global culture. Sage, 1992.
ROBERTSON, R. et al. Glocalization: Time-space and homogeneity-heterogeneity. Global modernities, v. 2, n. 1, p. 25-44, 1995.